Thursday, February 7, 2008
into the wild
into the wild.
Tenho pensado muito nisso, numa existência no campo, junto do vento e dos aromas dos pomares. Pensado em tardes apanhando sol numa varanda, sobre as planícies, na companhia de um livro e de outro alguém a ler. Pensado nisso para quando me reformar...
Agora não. Agora preciso de prédios e de noite e de barulho e de mais e mais e mais. Ainda é muito cedo para a minha existência no campo por mais de 15 dias. A não ser que o campo assuma a energia das cidades. E como isso não vai acontecer... continuo a precisar das pequenas (grandes) mentiras e dos pequenos (grandes) prazeres da vida na cidade.
Fui ao cinema ver um filme sobre um rapaz que se fartou. Fartou-se da farsa que é esta vidinha de parecer bem... Quanta mentira há atrás de um casamento feliz. O casamento dos pais dele era uma tremenda encenação. E o casamento dos pais dele era real. Igual a tantos, tantos outros.
Exemplar, tirou A's na maior parte das cadeiras, tinha um futuro assegurado. Devia começar a ganhar bem, trocar o seu Datsun velho e casar-se. Deste modo poderia perpetuar a mentira feliz de uma casa com cerca branca e dois filhos a brincar no jardim. Quantas mentiras felizes se passeiam pelas ruas desta cidade... Tolstoi escreveu em A Sonata de Kreutzer que "amar um homem ou amar uma mulher para toda a vida era como acreditar que uma vela poderia arder eternamente". A personagem do seu livro viveu sempre na amargura, desde o momento em que começou a pensar. Depois casou-se, depois não acreditou que a vela se podia apagar, depois viu o violista junto da sua mulher, matou a mulher e, no final, continuou a viver amargurado até contar tudo isto a um estranho. "Perdoe-me..."
Não eram essas as intenções de Christopher J. McCandless. Decidiu partir. Into the wild. Sem avisar ninguém. Sem deixar rasto. Ir-se embora, simplesmente, encontrando-se com o mundo, pondo em prática aquilo que leu. "Não te envolvas demasiado com as tuas leituras..." O envolvimento, para ele, foi inevitável. Sozinho, foi conhecer as sensações do mundo e conheceu muita gente pelo caminho, uns que procuravam o mesmo, outros que viviam apenas. Chegou mesmo a dar, aos vinte e três anos, maiores do que aquelas que recebeu, lições de vida a um velhote reformado. Momentos irónicos e bonitos. "Deixa-me adoptar-te..."
Depois a aventura, o Alasca. Sobreviver só com e da Natureza. Fazer parte dela até às últimas consequências.
De vez em quando, a voz-off da irmã contava-me mais alguns pormenores da sua vida. Tive pena dela. Ia entrando cada vez mais na história, sentindo e percebendo que aquele seria o único caminho possível.
Lembro-me cruelmente de uma parte em que, depois de terem aparecido lindíssimas imagens de campo e deserto, voltamos à cidade. Arranha-céus! Que violência, exagero, sobrepovoação. Pergunto-me se será mesmo aquele o lugar onde desejamos viver. O expoente máximo da realização humana.
Estar sem mais ninguém durante muito tempo deve ser das experiências mais perturbantes do humano. Não sei se tinha paciência para mim mesmo... Procurar a verdade última das coisas pode ser absolutamente pavoroso! McCandless,ou melhor, Super-tramp é um exemplo. Até onde podemos ir quando optamos pela sinceridade, quando a sinceridade é a nossa única moeda de troca com a vida? Longe, muito longe. (de mais até, se calhar.)
Muito mais que um filme, muito mais que paisagens inebriantes ou uma sensação forte de aventura, os minutos que perdi a ver aquelas imagens fizeram-me desejar a sinceridade, dar um grito e rejeitar a farsa. Tal como McCandless fez, embrenhar-me na natureza. Mas, talvez, não sozinho e, talvez, não no Alasca.
A frase que me apetecia transcrever agora, não a vou transcrever. É simples e não é original, mas é melhor lê-la no final do filme... quando tudo fizer sentido
Etiquetas:
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1 comment:
Desconhecia que o senhor professor tinha um blog! =)
Abraço!
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