Thursday, October 25, 2007

o sabor da melancia

Não só de sabor se fazia o filme.
Melancias, muitas e grandes, bem verdes e bem vermelhas. Ora aprisionadas no meio das pernas de uma qualquer japonesa actriz porno, ora a flutuar ribeira abaixo. Quanto sumo sangrento de melancia encarniçada escorreu pelo queixo daquelas personagens. Perturbante do primeiro ao último instante... e quanto me fez rir nos "flashes musical anos 30" que interrompiam a enormidade lasciva que se ia sobrepondo no ecrã.
"Ainda vendes relógios?" Um sorriso constrangido. O seu pensamento devia ser "Não, faço filmes". É claro que a palavra filme não pode ser proferida em alta voz quando se trata daquele tipo de filmes (será possível empoleirar uma bolinha vermelha no canto superior direito do jardim público?).
Cinema é arte, a arte nem sempre (ou mesmo nunca) precisa de ser narrativa. Será que era isso que se pretendia com aquele rol de imagens desconexas mais ou menos interligadas por uma pseudo-história pouco clara, um pseudo-intelectualismo libidinoso e um tanto ao quanto perturbado? Será apenas o meu olhar pouco aberto que acha isto?
Tenho de admitir que possivelmente o sabor da melancia é um bom momento de cinema, ou então um filme com bons momentos cinematográficos lá dentro...



Pelo menos gostei muito desta parte!
Não aconselho a ninguém, mas vejam porque perturba.

Saturday, October 20, 2007

Beirut - "Elephant gun" - Líbano

Um país, o Líbano, perfeitamente desconhecido para a maior parte de nós (afinal de contas em que monumento, praia, paisagem, pensamos enquanto pronunciamos o seu nome?), surgiu, de repente, nas nossas vidas, trazendo, uma vez mais, a natureza vil dos homens aos ecrãs da televisão: era a guerra.
Esta guerra começou, não sei bem porquê. Acabou, não sei bem porquê. Pessoas morreram, outras pessoas choraram a sua morte. Aqui, alguns soltaram suspiros solidários enquanto mordiam, satisfeitos, os cantos de uma tarte saborosa, à hora de jantar. O world press photo distinguiu uma fotografia
desta guerra (e que poderosa fotografia era!) na sua edição deste ano. O que mais dizer acerca do Líbano? A guerra acabou, as mulheres vestidas de negro já não se expõem em pranto. Não há nada que faça soltar o ah na fatídica hora das 8.
Esquecemos, de novo, o Líbano.
Contudo a música tem coisas fantásticas e hoje, a música, fez-me voltar a pensar naquele país que não conheço. Isso porque, nascido no Novo México, um rapaz chamado Zach Condon decidiu chamar à sua banda "Beirut" apesar de por lá nunca ter passado. Contudo, justifica-se no ípsilon desta semana: "é uma cidade onde mundos diferentes colidem e que transporta estigmas de anos de guerra civil, mas mesmo assim tem uma energia transbordante. A arte ocupa ali um lugar privilegiado e os seus habitantes vão às compras ou ao cinema como se não houvesse conflito à volta, provando que é possível ter uma vida digna mesmo em condições difíceis." Prova destas suas frases é a tal fotografia do wpp. É complicado perceber a aparente descontracção com que aquelas pessoas fazem um aparente turismo pelos destroços da guerra.
Líbano à parte, a música de Zach Condon é contagiante, algo entre os Balcãs e Paris boémio de outros tempos. Demasiado europeu para ser americano. Inebriante... na passagem da vertigem a qualquer outra coisa . A mim passou-me o vírus.



Minto se continuar a insistir que penso no Líbano enquanto oiço as suas canções... mas era muito bom se viessem a Portugal dar um concerto!